☸ Tipitaka - a riqueza do Cânone em suas mãos

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A busca pelo despertar

Last updated June 21, 2022

CAPÍTULO 1 - A VIDA DO BUDDHA HISTÓRICO

A busca pelo despertar

Vi.7 A nobre busca

Nesta passagem, o Buddha descreve a “nobre busca” por aquilo que está para além das limitações da existência condicionada, e como começou sua busca.

Monges, há dois tipos de busca: a busca nobre e a busca ignóbil. Monges, o que é a busca ignóbil? Monges, aqui alguém sendo ele mesmo sujeito ao nascimento busca o que também é sujeito ao nascimento; sendo ele mesmo sujeito ao envelhecimento busca o que também é sujeito ao envelhecimento; sendo ele mesmo sujeito à doença busca o que também é sujeito à doença; sendo ele mesmo sujeito à morte busca o que também é sujeito à morte; sendo ele mesmo sujeito à tristeza busca o que também é sujeito à tristeza; sendo ele mesmo sujeito às impurezas busca o que também é sujeito à impurezas.

Monges, o que pode ser falado como sendo sujeito ao nascimento? Esposa e filhos são sujeitos ao nascimento; servos e servas são sujeitos ao nascimento; cabras e ovelhas são sujeitos ao nascimento; galinhas e porcos são sujeitos ao nascimento; elefantes, gado, cavalos e éguas são sujeitos ao nascimento; ouro e prata são sujeitos ao nascimento. Monges, tais aquisições são sujeitas ao nascimento. Alguém que esteja preso a tais coisas, entregue a elas e viciado nelas, sendo ele mesmo sujeito ao nascimento busca o que é também sujeito ao nascimento. … [“Esposa e filhos”, etc. são da mesma maneira explicados como sujeitos ao “envelhecimento” e às “impurezas” 1, e todos com exceção do “ouro e prata” como sendo sujeitos à “doença”, à “morte” e à “tristeza”]. Alguém que esteja preso a tais coisas, entregue a elas e viciado nelas, sendo ele mesmo sujeito ao envelhecimento [etc.] busca o que é também sujeito ao envelhecimento [etc.]. Monges, essa é a busca ignóbil.

Monges, o que é a busca nobre? Aqui alguém sendo ele mesmo sujeito ao nascimento, conhecendo o perigo naquilo que é sujeito ao nascimento, busca o nirvāṇa, a não-nascida segurança suprema em relação à escravidão; sendo ele mesmo sujeito ao envelhecimento, conhecendo o perigo naquilo que é sujeito ao envelhecimento, busca o nirvāṇa, a não-nascida segurança suprema em relação à escravidão; sendo ele mesmo sujeito à doença, conhecendo o perigo naquilo que é sujeito à doença, busca o nirvāṇa, a não-nascida segurança suprema em relação à escravidão; sendo ele mesmo sujeito à morte, conhecendo o perigo naquilo que é sujeito à morte, busca o nirvāṇa, a não-nascida segurança suprema em relação à escravidão; sendo ele mesmo sujeito à tristeza, conhecendo o perigo naquilo que é sujeito à tristeza, busca o nirvāṇa, a não-nascida segurança suprema em relação à escravidão; sendo ele mesmo sujeito às impurezas, conhecendo o perigo naquilo que é sujeito às impurezas, busca o nirvāṇa, a não-nascida segurança suprema em relação à escravidão. Monges, essa é a busca nobre.

Monges, antes de meu despertar, não ainda completamente desperto, quando ainda era um bodhisatta, sendo eu também sujeito ao nascimento, busquei o que também era sujeito ao nascimento; sendo eu mesmo sujeito ao envelhecimento … doença … morte … tristeza … e impurezas, busquei o que também era sujeito a isso.

Monges, então, assim considerei: “Por que, sendo eu mesmo sujeito ao nascimento, busco o que também é sujeito ao nascimento? Por que, sendo eu mesmo sujeito ao envelhecimento … doença … morte … tristeza … e impurezas, busco o que também é sujeito a isso?

Suponha que, sendo eu mesmo sujeito ao nascimento, conhecendo o perigo naquilo que é sujeito ao nascimento, eu busque o nirvāṇa, a não-nascida segurança suprema em relação à escravidão. Suponha que, sendo eu mesmo sujeito ao envelhecimento [etc.], conhecendo o perigo naquilo que é sujeito ao envelhecimento [etc.], eu busque o nirvāṇa, a que não envelhece … a que não adoece … a que não morre … a sem tristeza … a pura segurança suprema em relação à escravidão.

Monges, mais tarde, sendo ainda jovem, um jovem de cabelos negros dotado das bençãos da juventude, no primor da juventude, apesar de minha mãe e meu pai desejarem o contrário e chorarem com faces lacrimosas, cortei meus cabelos e minha barba, vesti o hábito amarelo e parti da vida no lar para a vida sem lar 2.

Ariya-pariyesana Sutta: Majjhima Nikāya I.161–163, trad. G.A.S.

Vi.8 Começando a vida sem lar

Esta passagem trata do começo da vida de renúncia e busca espiritual de Gotama.

Aggivessana, antes de meu despertar, ainda não totalmente desperto, quando eu era ainda um bodhisatta, considerei: “A vida no lar é uma constrição, uma esfera de poeira 3; a vida sem lar 4 É uma vida ao ar livre. Não é fácil, enquanto se vive em um lar 5, viver a vida santa absolutamente perfeita e inteiramente pura como uma concha polida. Suponha que eu corte meus cabelos e minha barba, vista o manto amarelo, e siga da vida no lar para a vida sem lar?”

Aggivessana, mais tarde, sendo ainda jovem, um jovem de cabelos negros dotado das bençãos da juventude, no primor da juventude, apesar de minha mãe e meu pai desejarem o contrário e chorarem com faces lacrimosas, cortei meus cabelos e minha barba, vesti o manto amarelo e segui da vida no lar para a vida sem lar.

Mahā-saccaka Sutta: Majjhima Nikāya I.240–241, trad. G.A.S.

Vi.9 Preparando-se para o esforço espiritual

Elogiarei o abandonar o lar, o como alguém com visão abandonou o lar, o como ele, examinando, encontrou deleite em abandonar o lar.

Vendo que esta vida no lar é uma constrição, a esfera da poeira, e que abandonar o lar é uma vida ao ar livre, ele abandonou o lar.

Tendo abandonado o lar, ele evitou as ações maléficas com o corpo. Tendo abandonado a má conduta no mundo, ele purificou seu modo de vida.

O Buddha 6 foi a Rājagaha;7 ele que é dotado das marcas excelentes 8 foi a Giribbaja, andou entre os magadhas pedindo alimento.

Em seu palácio, Bimbisāra 9 o viu; vendo aquele que é dotado das marcas, ele disse:

“Senhores, olhem para ele que é belo, grande, puro; ele é dotado de boa conduta à medida que olha para frente à distância de um jugo apenas 10.

Com os olhos para baixo, dotado de vigilância, ele não é visto como alguém de uma família inferior. Que os mensageiros reais corram para descobrir para onde o monge segue”.

Os mensageiros reais o seguiram (pensando): “Para onde este monge se dirige? Onde será seu abrigo?”

Seguindo uma ronda contínua 11, com as portas sensoriais protegidas 12, bem contidas, ele encheu rapidamente sua tigela, estando atento e vigilante.

Tendo perambulado em sua coleta de alimento, tendo saído da cidade, o sábio se dirigiu ao Monte Paṇḍava (pensando): “Aqui será meu abrigo”.

Vendo-o se abrigando, os três mensageiros se sentaram; dentre eles, um retornou sozinho e informou ao rei:

“Grande rei, aquele monge está sentado do lado leste do Monte Paṇḍava, como um tigre ou um touro, como um leão em uma caverna montanhosa”.

Ao ouvir as palavras do mensageiro, o regente seguiu rapidamente em uma carruagem real até o Monte Paṇḍava.

Aquele regente, levando a carruagem tão longe quanto era possível no parque, desceu da carruagem e seguiu a pé. Alcançando-o, ele se sentou.

Tendo se sentado, o rei, então, trocou cumprimentos amigáveis habituais; e tendo trocado cumprimentos, disse assim:

“Você é jovem e suave, em sua juventude, um adolescente, com uma boa compleição e estatura, como um regente de bom nascimento, alguém que torna bela a frente de um exército, à frente de uma comunidade de elefantes. Eu lhe darei sua riqueza; desfrute-a. Diga-me seu nascimento, quando indagado”.

“Rei, direto naquela direção há um povo, vivendo nos francos dos Himalaias, possuidor de riqueza e vigor, pertencente àquele que tem uma longa ligação com os kosalas.

Eles são ādiccas por clã, sakyas por nascimento. De tal família eu saí, não desejoso dos prazeres dos sentidos.

Tendo visto o perigo nos prazeres sensoriais, tendo visto o abandono do lar como segurança, eu seguirei a fim de fazer o esforço. Nisto minha mente se deleita.

Pabbajjā Sutta: Sutta-nipāta 405–424, trad. G.A.S.


  1.  I.e. ambas faltas mentais e impurezas nos metais preciosos. ↩︎

  2.   A vida de um renunciante andarilho. ↩︎

  3.  De impurezas como ganância e ódio. ↩︎

  4.  Uma vida de renúncia. ↩︎

  5.  Isto é, vivendo uma vida mundana em uma família. ↩︎

  6.  Embora ainda que tivesse de atingir o despertar, o poema se refere a ele com a palavra “Buddha”. ↩︎

  7.  Capital de Magadha ↩︎

  8.  Veja Vi.38. ↩︎

  9.  Bimbisāra, Rei de Magadha, que se tornou um devoto bem próximo do Buddha, visitava-o sempre que tinha uma oportunidade. Quando velho, Bimbisāra foi assassinado por seu filho sedento de poder, Ajātasattu. ↩︎

  10.  A distância de um arado, apenas uma pequena distância à frente, cerca de dois metros. ↩︎

  11.  Visitando cada casa em um vilarejo, pedindo por alimento, sem ser seletivo, dando a cada família a oportunidade de gerar karma benéfico ao oferecer o alimento. ↩︎

  12.  Restringindo os cinco sentidos físicos e a mente, de maneira a não fazer surgir estados como os de ganância ou aversão. ↩︎


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