A relação do Buddha com o Dhamma
CAPÍTULO 2 - DIFERENTES PERSPECTIVAS SOBRE O BUDDHA
A relação do Buddha com o Dhamma
A natureza do Buddha é vista como intimamente relacionada ao Dhamma, no sentido de seus ensinamentos, do caminho para o objetivo buddhista, e este objetivo em si, o nirvāna.
Th.2 Quem vê o Dhamma vê o Buddha
Mesmo se, monges, um monge habitasse a 1100 quilômetros de distância, mas não fosse alguém cobiçoso … ou com uma mente de má vontade, … (e tivesse) a vigilância presente, compreendendo claramente, aquietado, com focamento da mente, sentidos contidos, então ele estaria realmente em minha presença. Qual é a razão para isso? Pois este monge vê o Dhamma, e, ao ver Dhamma, me vê.
Saṅghāṭikaṇṇe Sutta: Itivuttaka 91, trad. P.H.
Th.3 Os Buddhas como tendo se tornado Dhamma
Nesta passagem, o arahant Mahā-kaccāna descreve o Buddha como a fonte das explicações do Dhamma.
Sabendo, o Bem-Aventurado sabe; vendo, ele vê; tornou-se visão, tornou-se conhecimento, tornou-se Dhamma, tornou-se o superior, ele é o pregador, o proclamador, o elucidador de significado, o doador do imortal (nirvāna), o mestre do Dhamma, o Tathāgata (ver Vi.20).
Madhupiṇḍaka Sutta: Majjhima Nikāya I.111, trad. P.H.
Th.4 O Buddha como incorporando o Dhamma
Estas passagens introduzem o termo composto “dhamma-kāya” (Pāli, skt dharma-kāya), que será muito refletido e expandido no buddhismo mahāyāna (ver M.9-11, V.2). Kāya significa “corpo”, mas pode significar isso no sentido de uma “coleção”, incluindo uma coleção de qualidades mentais. Em um composto não se pode dizer se a primeira palavra é singular ou plural, então dhamma- pode significar o Dhamma, ou dhammas, qualidades desenvolvidas no caminho. Na primeira passagem, o composto é um adjetivo e parece significar que o Buddha é aquele cujo “corpo” de qualidades, ou seja, caráter, é o Dhamma: ele é unificado com um corpo de qualidades do Dhamma, ele encarna o Dhamma. O preparo para esta passagem é dado abaixo como Th.44. Na segunda passagem, em que o composto é um substantivo, a monja-arahant Mahā-pajāpatī, madrasta do Buddha, fala com o Buddha.
Vāseṭṭha, aquele cuja fé no Tathāgata se enraizou e se tornou estabelecida, firme, inabalável por qualquer renunciante, brāhmaṇa, deidade, māra ou brahmā ou qualquer outra pessoa no mundo, cabe a ele dizer: “Sou um filho legítimo do Bem-Aventurado, nascido de sua boca, nascido do Dhamma, produzido pelo Dhamma, criado pelo Dhamma, herdeiro do Dhamma. Qual é a razão para isso? Porque, Vāseṭṭha, estas são designações do Tathāgata, “aquele cujo corpo (de qualidades) é Dhamma (Dhamma-kāyo)”, “aquele cujo corpo (de qualidades) é o superior (brahmā)”, “tornou-se Dhamma”, tornou-se o superior”.
Aggañña Sutta: Dīgha Nikāya III.84, trad. P.H.
Eu, Afortunado, sou sua mãe; tu, ó sábio, és meu pai:
Senhor, tu conferes a felicidade do bom Dhamma, (assim) eu nasci de ti, Gotama!
Afortunado, este corpo de forma material foi criado por mim.
Mas meu impecável corpo de dhamma (corpo de boas qualidades) foi criado por ti.
Therī-apadāna, section 17, vv. 31–32: Apadāna p.532, trad. P.H.