As conquistas e a natureza do Buddha
CAPÍTULO 1 - A VIDA DO BUDDHA HISTÓRICO
As conquistas e a natureza do Buddha
Vi.20 O Tathāgata
Esta passagem explica que o Buddha é o “Tathāgata”, aquele que Assim-foi ou Assim-veio 1. O “mundo” (loka) que o Buddha transcendeu é em outras partes descrito como processos da experiência que se desintegram: seis sentidos, objetos sensoriais, consciências sensoriais, e sensações que surgem condicionadas pelos contatos sensoriais (Saṃyutta Nikāya IV.52), i.e. tudo o que é de algum modo doloroso, mesmo que sutilmente (Saṃyutta Nikāya IV.38–40).
O mundo foi totalmente compreendido pelo Tathāgata. Em relação ao mundo, o Tathāgata não tem grilhões. A origem do mundo foi totalmente compreendida pelo Tathāgata. A origem do mundo foi abandonada pelo Tathāgata. A cessação do mundo foi totalmente compreendida pelo Tathāgata. A cessação do mundo foi realizada pelo Tathāgata. O caminho que conduz à cessação do mundo foi totalmente compreendido pelo Tathāgata. O caminho que leva à cessação do mundo foi desenvolvido pelo Tathāgata.
O que quer que seja neste mundo com suas deidades, māras e brahmās, com seus povos, renunciantes, brāhmaṇas, reis e massas, é visto, ouvido, sentido, conhecido, alcançado, procurado, ponderado pelo intelecto, a isso o Tathāgata totalmente despertou. Assim, ele é chamado de Tathāgata.
Desde a noite em que o Tathāgata alcança o insuperável completo despertar, até a noite (de sua morte quando) ele alcança o nirvāṇa final no elemento-nirvāṇa sem combustível restante, o que quer que o Tathāgata tenha dito, falado, explicado é apenas assim (tath’eva) e não de outra forma. Assim, ele é chamado de Tathāgata.
De acordo com o que o Tathāgata diz isso é o que ele faz (tathā-kārī), e de acordo com o que ele faz isso é o que ele diz (tathā-vādī). Assim, ele é chamado de Tathāgata.
Neste mundo, com suas deidades, māras e brahmās, com seus povos, renunciantes, brāhmaṇas, reis e massas, o Tathāgata é o vitorioso invencível, o que tudo vê, o portador do poder. Assim, ele é chamado de Tathāgata.
Loka Sutta: Itivuttaka 121–122, trad. G.A.S.
Vi.21 O Tathāgata como a pessoa que causa muitas coisas boas aparecerem
Monges, há uma pessoa que surge no mundo para o bem-estar de muitos, para a felicidade de muitos, por compaixão pelo mundo, para o bem, bem-estar e felicidade de deidades e humanos. Quem é essa pessoa? É o Tathāgata, o arahant (valoroso), o Buddha perfeitamente desperto. Essa é a pessoa.
Monges, há uma pessoa que surge no mundo que é difícil de obter… que surge como um homem de maravilhas… cuja morte é uma angústia para muitos… que é única, sem par, sem contrapartida, incomparável, inigualável, sem igual, sem rival, o melhor dos humanos. Quem é essa pessoa? É o Tathāgata, o arahant, o Buddha perfeitamente desperto. Essa é a pessoa.
Monges, o aparecimento de uma pessoa é o aparecimento de grande visão, de grande luz, de grande brilho… é o aparecimento das seis coisas insuperáveis… a realização do quádruplo conhecimento analítico… a penetração dos vários elementos, da diversidade de elementos; … é a realização do fruto que é conhecimento e liberdade… a realização dos frutos que são entrada-na-correnteza, uma-vez-retornante, não-retornante e o estado de arahant. Quem é essa pessoa? É o Tathāgata, o arahant, o Buddha perfeitamente desperto. Essa é a pessoa. Monges, o aparecimento dessa pessoa é o aparecimento de todos esses.
Os Uns, suttas 171–187: Aṅguttara Nikāya I.22–23, trad. G.A.S.
Vi.22 Os poderes do Buddha
Esta passagem é parte da resposta do Buddha à situação em que um ex-monge desapontado o calunia dizendo que ele ensinava baseado apenas em raciocínio e carecia de qualquer conhecimento superior supranormal.
Sāriputta, este homem tolo, Sunakkhatta, nunca me entenderá de acordo com o Dhamma: “Esse Bem-Aventurado engloba com sua própria mente as mentes de outros seres e outras pessoas: ele entende uma mente afetada pela paixão como afetada pela paixão, uma mente não afetada pela paixão como não afetada pela paixão [e da mesma maneira, uma mente afetada ou não pelo ódio ou pela ilusão]; ele entende uma mente contraída como contraída, uma mente distraída como distraída; ele entende uma mente exaltada como exaltada, uma mente não exaltada como não exaltada; … ele entende uma mente controlada como controlada, uma mente não controlada como não controlada; ele entende uma mente liberta como liberta, uma mente não liberta como não liberta”.
Sāriputta, o Tathāgata tem estes dez poderes de Tathāgata, em virtude dos quais ele reivindica o lugar de líder da manada, ruge seu rugido de leão nas assembleias e coloca em movimento a roda de Brahmā 2. Quais são os dez?
Sāriputta, aqui o Tathāgata entende como realmente é: o possível como possível; o impossível como impossível. Esse é o poder de um Tathāgata que o Tathāgata possui, em virtude do qual ele reivindica o lugar de líder da manada, ruge seu rugido de leão nas assembleias e coloca em movimento a roda de Brahmā. Sāriputta, aqui o Tathāgata entende como realmente é: os resultados das ações realizadas, passado, futuro e presente, por meio de possibilidades e causas; … os caminhos que levam a todos os destinos (renascimento); … o mundo com seus muitos e diferentes elementos; … como os seres têm inclinações diferentes; … disposição das faculdades de outros seres, de outras pessoas; … a impureza, a limpeza e o surgimento em relação às absorções meditativas, libertações, concentrações e realizações. …
Sāriputta, aqui o Tathāgata se recorda de suas múltiplas vidas passadas: um nascimento, dois nascimentos … muitas eras de contração e expansão mundial … Assim, com seus aspectos e detalhes, ele se lembra de suas múltiplas vidas passadas. …
Sāriputta, com o olho divino, que é purificado e supera o humano, o Tathāgata vê seres morrendo e reaparecendo, de status baixo ou alto, belos e feios, afortunados e infelizes …. e entende como os seres morrem de acordo com suas ações. …
Sāriputta, percebendo por si mesmo com insight direto, o Tathāgata aqui e agora entra e permanece na liberdade da mente e na liberdade pela sabedoria que não têm inclinações intoxicantes, com a destruição das inclinações intoxicantes. Esse também é o poder de um Tathāgata que o Tathāgata possui, em virtude do qual ele reivindica o lugar de líder da manada, ruge seu rugido de leão nas assembleias e coloca em movimento a roda de Brahmā.
Mahā-sīhanāda Sutta: Majjhima Nikāya I.69–71, trad. G.A.S.
Vi.23 O Buddha como o originador do caminho que seus discípulos seguem
Monges, por meio do desencantamento com forma, sensação, percepção, atividades volitivas e consciência 3, por meio de seu desvanecimento e cessação, o Tathāgata, o arahant, o Buddha perfeitamente desperto, é liberto pelo não-apego; ele é chamado de Buddha perfeitamente desperto. O mesmo se aplica a um monge liberto pela sabedoria …
Monges, o Tathāgata, o arahant, o Buddha perfeitamente desperto, é o originador do caminho não surgido antes, o produtor do caminho não produzido antes, o declarador do caminho não declarado antes. Ele é o conhecedor do caminho, o descobridor do caminho, o habilidoso na senda. E seus discípulos agora vivem seguindo esse caminho e o realizam depois.
Sambuddha Sutta: Saṃyutta Nikāya III.65–66, trad. G.A.S.
Vi.24 O aparecimento do Buddha traz grande luz
Monges, tanto quanto a lua e o sol não tiverem surgido no mundo, por tanto tempo não há aparecimento de grande luz e brilho, mas então a escuridão cegante prevalece, uma massa densa de escuridão; e nessa medida dia e noite não são discernidos, o mês e a quinzena não são discernidos, as estações e o ano não são discernidos.
Mas, monges, quando a lua e o sol se levantam no mundo, então… [esses aparecem e são discernidos].
Monges, assim também, tanto quanto o Tathāgata não tiver surgido no mundo, o arahant, o Buddha perfeitamente desperto, por tanto tempo não há aparecimento de grande luz e brilho, mas então a escuridão cegante prevalece, uma massa densa de escuridão; e nessa medida não há explicação, ensino, proclamação, estabelecimento, divulgação, análise ou elucidação das quatro Verdades dos Nobres. 4
Mas, monges, quando o Tathāgata surge no mundo… [então estas aparecem e as Verdades dos Nobres são reveladas].
Suriya Sutta: Saṃyutta Nikāya V.442–43, trad. G.A.S.